quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Fernando Pessoa- ( Acerca de Salazar e do salazarismo)

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A agua dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.

Oh, c'os diabos!
Parece que já choveu...

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Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...

Bebe a verdade
E a liberdade,
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
Mas ninguém sabe porquê.

Mas, enfim, é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé:
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.

29-03-1935
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Á Emissora Nacional

Fernando Pessoa



Para a gente se entreter
E não haver mais chatice
Queiram dar nos o prazer
De umas vezes nos dizer
O que Salazar não disse.

Transmittem a toda a hora,
Nas entrelinhas das danças,
"Salazar disse" Emissora
E ahi vem essa senhora
A Estada Nova com tranças.

Sim, talvez seja o melhor,
Porque estes homens de estado
Quando fallam, é o peor,
E então quando são do teor
Do chatazar já citado!



Primavera de 1935
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